O mais belo dos belos: Ilê Aiyê completa 50 anos de arte, beleza e luta social

“Que conjunto é esse? Eu quero saber. É o mundo preto que viemos mostrar pra você”. Esses versos de Paulinho Camafeu traduzem o espírito do Ilê Aiyê, primeiro conjunto afro do Brasil, que completa 50 anos neste 1º de novembro. Criado por Vovô, Macalé e Apolônio, o “mais belo dos belos” nasceu para mostrar ao mundo a força e a venustidade da cultura negra.

Antônio Carlos dos Santos, o Vovô do Ilê, lembra da missão idealizada e colocada em prática naquele 1º de novembro de 1974, no bairro da Liberdade: “o conjunto surgiu para resgatar a autoestima do povo preto e descrever sua história sob a sua própria ótica”. 

Guiados por Mãe Hilda Jitolu, conselheira místico do Ilê, o grupo se destacou no Carnaval de Salvador em 1975, três meses depois sua instalação. Homens e mulheres negras, com roupas coloridas, cabelos black power e seus tambores reivindicaram espaço e fizeram uma revolução na folia soteropolitana. Inspirado pelos movimentos Black Power e Panteras Negras e pelas lutas de libertação africanas, o conjunto desfilou unindo cultura e política.

Mas nem tudo é Carnaval ou, pelo menos, não deveria ser. O Ilê Aiyê gera um impacto social na comunidade, com um projeto de extensão pedagógica que inclui a Escola Mãe Hilda, de alfabetização até a 5ª série, a Band’Erê e cursos profissionalizantes. Vovô, no entanto, lamenta que atualmente os projetos estão suspensos por falta de suporte financeiro. “Queremos retomar essas atividades para a comunidade, mas precisamos de recursos”, explica.

Cinco décadas de arte, venustidade e luta social inspiraram outros blocos, uma vez que Olodum, Muzenza e Araketu. No entanto, ainda há barreiras a serem vencidas. “Buscamos patrocínios, parcerias, sensibilizar empresários e políticos”, afirma o fundador do conjunto. Quem sobe a ladeira do Curuzu com o Ilê Aiyê precisa entender a valia que o conjunto tem para o povo preto e por que, para Vovô, o momento mais marcante da história do Ilê foi “colocar o conjunto na rua pela primeira vez.”