Leito de esquecimento: Mau cheiro, esgoto e entulho marcam cursos de rios em Salvador

 Leito de esquecimento: Mau cheiro, esgoto e entulho marcam cursos de rios em Salvador


Material publicada originalmente no Jornal Metropole em 31 de outubro de 2024

Há um mau cheiro privado que invade passarelas e outras vias de Salvador. Os mais novos podem até se confundir, crer que é uma curso de esgoto sem tratamento: ledo miragem. Muitas das águas que circulam a firmamento cândido pela cidade, vistas uma vez que canais de resíduo de detritos com um olor privativo, se tratam de grandes rios que compõem a bacia hidrográfica baiana. Ações de saneamento uma vez que as do arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, em 1979, mostram que, quando há boa vontade e conhecimento, é provável restaurar esses canais. O descaso com os leitos, no entanto, torna a problemática muito mais fundíbulo, literalmente.

A arquiteta Ana Brasiliano participou do projeto com Lelé e relembra a atuação do arquiteto para restaurar as águas do Rio Camarujipe. Um dos destaques eram as “escadarias drenantes que faziam as águas escoarem por reles de escadas que davam acessos às comunidades, alagadas pela desordem do rio”. A iniciativa era uma forma de conviver de forma inteligente e sustentável com a chuva. Com o passar dos anos, o rio que deságua no Costa Azul presenciou lixo, esgoto e todo tipo de descarte descendo leito aquém. Em 2021, um projeto de indicação para estudar a viabilidade da recuperação dele chegou a ser apresentado e legalizado na Câmara de Vereadores. Desde logo, no entanto, zero foi feito.

E a situação não é exclusivamente no Camarujipe. Rio das Pedras, do Cobre, Jaguaribe, dos Seixos, Paraguari, Passa-Vaca também. Em alguns deles já foram flagrados até sofá e geladeira descendo rios aquém. E, para além das águas visíveis, as águas subterrâneas também são afetadas. Coordenador do Setor de Geografia do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, Jémison Santos acredita em uma preterição proposital. “Ações políticas definiram o caos que se encontram as bacias de Salvador. Aliadas aos aspectos econômicos, a fauna e flora são afetados não por uma exiguidade de planejamento, mas por um planejamento da exiguidade”, analisa.

Desmatamento das margens e o lançamento de esgotos são os principais fatores de degeneração de diversos cursos, uma vez que o Rio das Tripas, aquele que corre ao lado da estação metroviária Entrada Setentrião e é divulgado pelo inconfundível mau cheiro. Outro divulgado soteropolitano é o Rio Lucaia, que, inclusive, deságua secção de seu curso em um cartão postal, o Dique do Tororó. O rio está quase 100% tamponado no galeria de ônibus da Avenida Vasco da Gama. A deseducação ambiental faz com que a população sequer saiba da existência desses rios.



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